segunda-feira, junho 26, 2023

À ESPERA DE MELHORES DIAS

Edição atualizada às 12h:21min

A BANCA QUE NINGUÉM 

QUER BANCAR


Há anos, o único sebista de Colatina luta 
para conseguir a sua banca de sebos 


 


Cobrinha: anos de luta por uma banca padrão.


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Por Guilherme Augusto Zacharias
Fotos OPC Jornal

Um dos mais antigos jornaleiros de Colatina, Alcides Scarpati, o Cobrinha, 60, começou na profissão muito cedo, em 1974, aos 11 anos de idade. Nesses quase 50 anos, Cobrinha não conheceu outro ofício. E apesar do tempo dedicado à profissão, até hoje o jornaleiro não conseguiu ter a sua própria banca padrão, 4m x 2m.

Segundo Cobrinha, todos os jornaleiros da cidade foram contemplados com uma banca padrão em troca de publicidade em painéis laterais e frontal por uma conhecida empresa de telefonia. Ele se diz discriminado por ter sido o único entre esses jornaleiros a não conseguir a banca, mesmo solicitando à empresa por várias vezes.


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Cobrinha revela que os apelos não se limitaram à empresa de telefonia, muito ao contrário, ele recorreu a “muita gente” para conseguir o tão sonhado abrigo para tocar o seu ofício com um pouco mais de dignidade. “Tentei na Prefeitura, na Câmara Municipal e até com empresas do ramo metalúrgico, que dizem não poder parar a produção para fazer uma banca pra mim”, desabafa.

Beatriz é cliente assídua do Sebo do Cobrinha.

Em 2011, Cobrinha conseguiu uma pequena banca, doada por uma empresa de comunicação do estado, e se instalou na avenida Delta, no Centro, onde está até hoje. Com a queda nas vendas de revistas e jornais impressos, Cobrinha passou a diversificar os produtos comercializados em sua banca 'provisória’.

Hoje, transformou o seu pequeno espaço em um quase amontoado de livros, entre romances e literatura brasileira, discos de vinil, fitas VHS e até pen-drives com milhares de músicas gravadas. Cobrinha diz que os discos são o carro-chefe das vendas, ainda que os livros também tenham uma boa procura, segundo ele.

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Pelos discos, o sebista não esconde a predileção. “Eu sou apaixonado pelos vinis, e tento manter a tradição mostrando às crianças a importância deles; quando posso, trago a vitrola pra cá e ponho para elas ouvirem aquele som único que a agulha deslizando no disco faz”, conta Cobrinha.


Jornais já publicaram a história de Cobrinha inúmeras vezes.

Conhecimento

A estudante do segundo período do curso de Direito do Unesc, Beatriz Dalmann Lopes,18, assídua frequentadora da Banca do Cobrinha, destaca a importância do trabalho do jornaleiro para a cultura da cidade. Para ela, uma banca maior, mais arrumada e com melhor visibilidade fará com que a cidade tenha um ganho cultural maior.

“Como diz meu pai, ‘o conhecimento nos liberta, é algo que ninguém pode nos tirar’. Dessa maneira, é importante sempre buscarmos ter entendimento dos assuntos atuais e também da nossa essência cultural, é fundamental para a formação acadêmica no geral. Dessa forma, o sebo proporciona isso para as pessoas”, diz Beatriz 

Os discos são a paixão de Alcides Scarpatti.

Best

Não é apenas para conseguir uma banca padrão que Alcides Scarpati luta há vários anos. Portador da Doença de Best, uma enfermidade ocular incurável, também conhecida pelo nome de distrofia macular viteliforme, que ele descobriu há quase 30 anos, Cobrinha vem lutando junto ao INSS para conseguir a aposentadoria, seja por tempo de trabalho, seja por invalidez.

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“Essa doença faz com que a visão frontal vá se fechando ao longo do tempo, e eu já tenho muita dificuldade para enxergar. Além disso, luto para que o INSS reconheça o período desde 1974 em que eu já trabalhava”, diz.

Criador do sebo em Colatina, Cobrinha não se lembra de quantas entrevistas deu nos últimos anos sobre a necessidade de conseguir uma banca padrão, mas tem esperança de que, um dia, seu desejo acabe atendido. “Seja por doação, seja na base da permuta com uma empresa forte em troca de exclusividade na propaganda, eu tenho esperança de, em breve, conseguir minha banca”, encerra Cobrinha.


Uma banca nova 4 x 2: o sonho de Cobrinha.

 




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